domingo, 12 de julho de 2009

Texto ruim e violento

Nascer é uma violência.

Morrer pode ser violento.

Tudo doi, arde, machuca, raspa, incha, fica vermelho, roxo, verde e azul.

Falta de respeito é uma violência.

Viver em paz alheio a tudo que te faz mal é uma violência, uma audácia, no mínimo uma injustiça.

Amar e mudar as coisas, se engajar policamente, religiosamente e lutar é uma violência.

O mundo é um bater incessante de moléculas cheias de energia e violentas.

Esse texto é uma violência contra ti leitor.

Desculpa.

Bolinhas de bis

Fazer uma bolinha com 16 papéis de bis que acabei de comer sem perceber é algo fantástico.
Acordar e perceber isso é engraçado.
Mais fantástico é pensar que muitas pessoas também fazem isso, igualzinho a mim.
Subir no telhado para esvaziar a cabeça, olhar pasmo pela janela de madrugada ou fazer um intercâmbio por um ano no exterior, largar tudo, todos estão embasados pela mesma filosofia.
Saber exatamente o que se quer mas querer em outro momento que não o "agora" não é exatamente indecisão ou "não saber o que se quer".
Ter a certeza de que se esta no caminho certo mas perder a vontade de continuá-lo. Olhar para a montanha que já se subiu ter certeza que não há mais volta e olhar para a montanha que há por vir e não ter a menor pressa em subi-la. Querer sentar embaixo da bergamoteira do existencialismo e dar um tempo.
Saber "quase tudo o que não se quer" e ter muita sede de aventuras e de liberdade.
Uma boa definição para isso tudo seria "adolescência". Aquela verdadeira que começa com 18 e acaba lá com uns 35 anos na cara depois que não resta mais nada a fazer além de se conformar com o que foi feito até ali e seguir a trilha mais limpa e segura que se vê a frente com os filhotes e a mulher ao lado.
Antes disso, sim, somos todos adolescêntes livres de corpo alma e destino !
Me sinto mais irresponsável e livre do que quando tinha 15!
Enfim, e o que diabos o bis tem a ver com isso tudo?
Nada, só que decidi parar de comer e precisava ocupar as mãos enquanto pensava e resolvi digitar.

Querer botar o pé no freio só para se ter a certeza de que ainda se tem algum controle sobre a própria vida, de que os desejos ainda prevalecem sobre as obrigações. Pensar algumas noites a fio em como fazê-lo, pensar mais algumas noites a fio nos detalhes de como seria isso e no final ter a certeza de que se pode sim fazê-lo é de entusiasmar e de dar medo.
Muitas vezes no fundo desejamos apenas não ter escolha. Ter somente um história pobre, triste e sofrida por tras, uma trilha dura mas moralmente correta a frente, que seguiriamos com retidão e seriedade, e que ao final sem sentido de tudo, olhariamos para toda essa trajetória e sentiriamos apenas orgulho, sabendo que não poderiamos ter feito melhor do que fizemos. Infelizmente a vida não é simples assim para todo mundo. Algumas pessoas têm escolhas. As fazem e pagam o seu preço. Correm o risco de não sentir o orgulho ao fim de tudo, mas buscam ao menos diminuir o vazio que se tem ao fim de tudo...
Na verdade isso tudo é um processo mais demorado e complexo do que somente algumas noites de insônia. Começa com a infelicidade inerente a uma vida aparentemente sem sentido, passando pelo estresse enloquecedor do dia-a-dia, indo de encontro com a falta de controle sobre a própria vida, sob a própria agenda ou sob os próprios atos, esbarrando na certeza de que há algo errado, caindo no vazio de não saber exatamente o que está errado, se perdendo no labirinto de não se saber mais quem se é, e vendo o futuro do fundo de um buraco muito fundo como um massacre psicológico pelo qual não se está preparado para enfrentar.

Talvez isso tudo sim seja a "adolescência". Isso tudo além de muito sexo, muitas festas, muitas aventuras, muitas loucuras, muitas dúvidas e pouca grana. A adultez é exatamente o contrário.
Ambas tem sempre como pano de fundo o relógio a pulsar invariavelmente a 60 batimentos por minuto. O que as vezes parece uma taquicardia, outras parece uma parada e quase sempre soa como uma arritmia.
Sentir a mente acelerar até dar dor de cabeça. Sentir a vida acelerar até nos matar de aflição.
Sentir que tudo está errado, o efeito estufa, a crise mundial, a guerra, a igreja, a política, e apesar de tudo a mundo segue em frente e com pressa, sempre atrasado... para onde? para que? por que?
Sentir que é hora de acabar o texto e voltar a estudar farmaco...