domingo, 16 de agosto de 2009

Assembléia Geral

Desculpa, eu queria muito falar de algo novo, divertido e criativo.
Queria muito ser engraçado saber rir da vida num domingo à noite; ser firme, porém leve; ser profundo, porém breve; ser normal, porém original...

De repente as teclas que sempre bato se tornam mais importantes do que eu gostaria, latejam e fazem meus dedos coçarem diante do teclado.

Domingo à noite novamente. O fim de semana vai embora e com ele a família, os amigos, a alegria, o amor, o tempo, a vida. Acompanhados ou sozinhos estamos todos absortos em nossa solidão/reflexão. Resta só o grande vazio e uma raquítica, preguiçosa, sincera e necessária esperança. Os que perdem até essa esperança se suicidam.

Eu disse que queria ser original; aqui vai um detalhe que me salva, em parte, da mesmice. Esse é o domingo à noite de um mês de férias que foram as penúltimas da minha vida. Isso deixa até o trabalhador mais dedicado e caprichoso desse Brasil pasmo. E pensar que tenho mais um domingo à noite igual ou muito pior que esse pela frente, me deixa tanto mais pasmo, se é que existe uma escala de “pasmice”.

O período de férias tem por característica ser feito de dias indefinidos que ora chamamos de sextas à noite, em que enlouquecemos e nos libertamos, ora sábados à tarde, reparadores, ora domingos de manhã, em que enchemos o coração de bons sentimentos, ora de terças à tarde, de infinito e nauseante tédio.
Acordamos às 14h e nos espreguiçamos até às 15h. Almoçamos ? Ligamos para pessoas interessantes. Assistimos filmes. Lemos livros de verdade. Jantamos com a família ou com os amigos (nunca sozinhos e com pressa). Vamos dormir às 3h ou às 6h ou vamos para festa e nem dormimos. Whatever...
Tudo isso acaba num amargo domingo à noite.
Sentamos com o maior peso do mundo no sofá, ou nos atiramos no chão da sala, nos lamentamos e fazemos planos e promessas igual e ridiculamente como no ano novo, ou depois de sofrer um acidente de carro.
Daqui para frente vai ser diferente. Nesse semestre vou estudar, vou abandonar minha vida boemia, vou fazer um regime, vou parar de fumar, vou falar com aquela garota, vou juntar algum dinheiro para viajar, vou aprender a tocar gaita... E se tudo isso der certo juro que vou até Caravaggio dando cambalhotas.
Toma-se um banho, faz-se a barba, passam-se algumas camisas, compra-se agenda pasta, canetas, livros (não os de verdade) e até um óculos de grau novo. Tentamos dormir no domingo à noite, a insônia não deixa, refazemos todos os planos mentalmente, achamos todas as saídas para todos os problemas, nossos e do mundo, cochilamos 10 minutos e esquecemos de tudo. Acordamos e levantamos rápido.
Tomamos um café bem forte, confidentes de si próprios e com toda a esperança que nosso coração pode comportar, vamos à luta já tendo a certeza de já ter de aprender a dar cambalhotas, pois é claro que dará tudo certo. Uma semana depois já estamos amarrotados, barbudos e bêbados num boteco.

Quero dizer, medidas provisórias e portarias no senado do psiquismo não nos levam muito longe, não resolvem os problemas. Somos corruptos com nós mesmos, possuímos mecanismos para nos autotrapacear. As leis dos sentimentos, desejos e fantasias tem muitas brechas. É preciso mexer na constituição, no âmago da questão.
Assembléia geral com todos os meus eus nas férias! Quero todos os neurônios e fantasmas do passado presentes! Vamos argumentar e deliberar calma, organizada e objetivamente! O relatório final sai no domingo à noite sem falta!
Esta é com certeza a reunião mais difícil de presidir.

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